quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Capítulo XII - O conselho de um ferreiro

Caros leitores e seguidores de Roggvar,

Antes de começar, gostaria de esclarecer algumas coisas:

- Mudei o foco narrativo para narrador-personagem, achei que se adaptou melhor a este tipo de conto, pois narrará toda a vida do personagem principal, então gostaria que ele próprio a contasse.
- Este capítulo encerrará o primeiro conto, que será pequeno assim mesmo. Já consegui pensar em um enredo para mais dois contos, porém, talvez possa expandir mas por enquanto não me veio essa ideia.
- Como esse é o último capítulo, há um resumo de todo o conto para que fique fácil ao novo leitor ter acesso à história.
- Por fim, gostaria de receber crítica, favoráveis ou não, para que possa aprimorar esse hobbie que é maravilhoso.



 Ficamos em casa por uma semana, tinha algumas pendências a resolver, por isso esperei mais algum tempo até atender o chamado de meu pai. Na carta, ele não havia especificado o assunto que queria tratar, assim achei que não tinha pressa. No oitavo dia, peguei quatro pedaços de queijo, duas velas, todo tesouro que encontrei naquela caverna subterrânea, meu arco e minha aljava com trinta flechas, assim que terminei de arrumar a mochila, me despedi de Sirja e logo após, estava na estrada com Fenrir.

            Fenrir é o meu lobo de estimação. O conheci há dois anos, quando em uma caçada, avistei sua mãe estirada no chão, morta, momento em que ele me seguiu e acabei pegando ele para criar. Desde então, ele passou a ser um grande companheiro para mim. Juntos, caçamos muitos animais e ultimamente, fomos atrás do Grande Veado Branco, procurado por muitos caçadores. Eventualmente, o achamos e ele revelou ser o Príncipe Daédrico da Caça, Hircine, o qual afirmou ter um propósito para mim, que, por ora, não poderia ser revelado, mas que precisava de mim para completar uma missão: salvar um de seus serviçais, Sinding, um lobisomem, que entrou em loucura após por as mãos em um anel encantado. Fui até o local indicado por Hircine e lá encontrei alguns caçadores, os quais tiveram que nós enfrentar. Salvei Sinding, o qual me pediu para matá–lo e me ofereceu um anel sem utilidade aparente.

            O destino era Solitude, a capital da província de Skyrim com uma área portuária esfuziante. Em duas semanas chegamos às docas e eu percebi que nesse meio tempo Fenrir não falou nenhuma palavra, pelo contrário, ele parecia estar ficando mais feroz a cada dia. Como não conhecia o lugar, procurei alguém que pudesse me esclarecer que rumo tomar ao procurar meu pai, que foi convocado há três anos para fazer armas e armaduras para o exército imperial.  Encontrei um elfo negro que estava quieto, observando a montanha que fica por trás das docas, a montanha que leva à cidade.

Negro como que nascido das cinzas.
            – Olá senhor – perguntei. – Sabe onde posso encontrar um ferreiro que trabalha para o Império?
            O Elfo me olhou como se eu tivesse feito algo atípico e comentou:
            – Um nord falando com um dunmer, pelo menos alguém nesse lugar sabe nos respeitar. Bem, os servos do império geralmente ficam no Castelo Dour, que é o quartel–general dos rosados.
            Rosado é o apelido pouco carinhoso dados aos imperiais. Afastei-me do senhor com um súbito arrepio na espinha. Nunca tinha visto um elfo negro tão negro quanto aquele, parecia que fora forjado em carvão. Subi a encosta com Fenrir, a qual era íngreme e estava molhada por causa da chuva que caía, meus pés chapinhavam na lama que se formava ao chão. Por fim, cheguei à entrada da cidade, onde os portões estavam abertos com dois guardas, um de cada lado das ameias. Ao entrar, vi uma multidão aglomerada, assistindo a uma execução que estava prestes a acontecer em um cadafalso de pedra. Estavam presentes dois guardas, um parecia ser o capitão deles, pois estava sem capacete e com uma armadura mais polida, além do executado e do carrasco, que era um redguard sem capacete também. Descobri o nome do sujeito que seria executado pelos gritos da multidão enfurecida.

Morte ao traidor!
Morte ao traidor!
Roggvir merece ser torturado!
 Corte seu pescoço!
            Gelei. O nome era parecido com o meu, no entanto por uma letra fui salvo. Apesar da multidão raivosa, pude ver e ouvir uma moça soluçando de chorar, ela parecia não gostar da cena, por isso tentei confortá–la:
            – Olá moça, com licença, a senhora é familiar do executado?
            – Sim, sou irmã – afirmou a moça chorando copiosamente – Meu irmão foi quem deixou Ulfric sair de Solitude após matar o Rei Supremo de Skyrim em um duelo.
            Dito isso, prestei–lhe minhas condolências, passei por algumas lojas, pois Solitude tinha um forte comércio e segui até o Castelo Dour. Era um lugar imenso, com várias portas e janelas. Viam–se muitos soldados treinando com espadas, lanças, arcos e escudos, mas também tinha bancos para se sentar, foi o que eu fiz, pois estava cansado da viagem que durou um dia e meio. Enquanto tomava um copo de bom ale que comprei na taverna, vi um homem se aproximar, era o redguard que executou o sujeito na entrada da cidade. Ele me fitou nos olhos enquanto eu retribuía a atitude, era muito alto e parecia ser vigoroso, o que mais assustava era a lâmina grande e afiada em suas costas, percebi que aquilo não poderia ser manejado por apenas uma mão.
Curved swords, huh?
            – Ei, belo lobo você tem aí – gritou o homem enquanto se aproximava mais.
            Fenrir mostrou os dentes e colocou–se em posição de ataque, mas mandei ele relaxar, afinal o homem trabalhava para o conselho da cidade. Não respondi sua afirmação, mesmo assim ele prosseguiu, como se realmente não esperasse uma reação.
            – Gostaria de pedir um favor, não há muitos guerreiros nesta cidade e eu mesmo não sou um guerreiro – não sei manejar espada ou lutar em um combate, apenas corto cabeças. – portanto, se puder me ouvir...
            – O que quer? – o interpelei rispidamente – De onde tirou que sou guerreiro?
            – Bem, sua armadura leve, seu arco e seu lobo, eu sinto que há algo mais em você do que um mero caçador.
            – Não me tire por aventureiro ou por um mercenário, mas fale homem, diga o que quer.
            – Existe um ladrão que se refugiou em uma caverna abaixo da cidade, ele roubou coisas que me pertencem, além do mais, é um velho inimigo da guarda da cidade. Gostaria que retornasse as coisas e, por ventura, desse cabo nele.
            – Verei o que posso fazer, não matarei o homem, mas retornarei suas coisas. – falei.
            – Está bom, faça como quiser, a propósito meu nome é Ahtar. – disse o homem.
            – Roggvar. – bradei, para que lembrasse meu nome. – Agora vou indo.
Um nord careca sem nenhum juízo.
            Dito isso, segui com Fenrir até a caverna que ficava embaixo da cidade. Como só havia essa, não perguntei qual era o local, pois já tinha visto o local anteriormente. Meu pai poderia esperar enquanto eu lidava com essa pequena tarefa, não iria dar cabo do homem, mas ele tomaria um belo susto. Quando entrei na caverna, esta tinha sinais de habitação e rastros que seguiam por um túnel estreito, consegui sentir cheiro de carne. Ao seguir esses rastros, senti um súbito instinto, ou melhor, vontade de matar como se fosse um animal, de repente, vi uma sombra e percebi que tinha encontrado o homem. Era um nord, careca e possuía um grande martelo de guerra nas costas, bem como um saco ao seu lado.

            Como que involuntariamente, saquei meu arco, encordoei, coloquei uma flecha e atirei–a. Passou por debaixo da axila do homem, acertando em cheio e levando ao chão seu grande corpo pesado e sem vida. Não me sentia mal fazendo isso, pelo contrário, parece que havia me tornado uma máquina de matar com aquele arco. Peguei a sacola com os pertences e retornei até Solitude para me encontrar com Ahtar no mesmo lugar. Ele me chamou para um cômodo do castelo, fechando a porta atrás ao entrarmos.

            – Roggvar, conseguiu recolher os pertences? – perguntou o homem.
            – Não só recolhi os pertences como matei o homem. – falei aquilo com uma naturalidade e satisfação.
            – Lhe darei uma boa quantia em di...
            – Não precisa, não precisa! Só me diga onde vender pedras preciosas aqui. – o interpelei.
            – Já que insiste, o ferreiro pode fazer essas tratativas com você, ele fica no alto, perto da forja e ao lado da loja de arquearia.
            – Obrigado, agora irei me retirar.
            Com isso, o grande redguard abriu a porta e me deixou passar. Segui até o caminho que ele falou e subi uma rampa de pedra, onde avistei um homem na faixa de seus quarenta e poucos anos, careca e com um avental de ferreiro. Era meu pai, não mudara desde que saiu de casa para trabalhar em favor dos imperiais. Ao me ver, ele ficou surpreso e franziu o cenho. Abri os braços em reverência e fui o primeiro a quebrar o silêncio.

Meu pai, meu grande herói, apesar de ser somente um ferrei

            – Pai, quanto tempo esperei contato do senhor, agora aqui estou, te visitando!
            – Filho... – falou meu pai com o rosto em lágrimas. – senti muito sua falta, como estão as coisas em casa? Sirja tem aceitado melhor a morte de sua mãe? Espero que não estejam passando necessidade.
            - Pode se despreocupar quanto a isso pai, a produção de leite vai ótima e eu consegui umas pedras preciosas em minha última caçada, quando fui atrás do Grande Veado Branco, acabei descobrindo que ele er...
            - Filho, preciso falar a sós com você – afirmou meu pai ríspido – mande o lobo embora.
            Diante disso, Fenrir rosnou para meu pai e fiquei sem entender o motivo, mas pedi que ele se afastasse da cidade e fui conversar com meu pai. Agora ele tinha uma feição séria e carrancuda.
            - Roggvar, preciso lhe contar uma história, uma história muito importante e que vai decidir os próximos momentos de sua vida, espero que a escute com muita atenção. – falou meu pai, prosseguindo com um balanço positivo de cabeça da minha parte. – Como você sabe, o Grande Veado Branco é Hircine, o Príncipe Daédrico da Caça e da Licantropia, além de ser o Senhor dos Campos de Caça. O seu encontro com ele não foi por acaso, ele te atraiu por meio dos seus servos e tem um particular interesse em você, pois é imbuído com sangue feral e tem habilidades sobre-humanas. Desde pequeno você conseguia fazer coisas que seus amigos nunca fizeram você tem uma ótima pontaria, consegue se recuperar rápido de ferimentos, não é só isso, em breve, terá mais ainda mais poderes.
            Fiquei surpreso com as palavras de meu pai. Realmente, eu era diferente dos meus amigos, mas achei que aquilo era algo natural, de fato algo havia mudado em mim e eu precisava de respostas.
             - De fato, mas como o senhor sempre soube disso e não me falou? – perguntei intrigado ao meu pai.
            - Há coisas que não podem ser faladas por enquanto, filho, você entenderá mais na frente. Por enquanto, quero que saiba que antes de nascer eu fiz um sacrifício que fez você ganhar esses poderes gradativamente. O que espero de você é que desenvolva esses poderes para o bem, por isso o chamei aqui. – falou meu pai, dando uma pequena pausa para pegar ar. – O que posso falar é que o príncipe é um velho inimigo meu. O lobo é servo de Hircine, ele está presente nas estátuas do demônio espalhadas por Tamriel, por isso preciso que tenha mais cuidado com ele, pois foi mandado para convertê-lo ao seu lado, o que não pode acontecer de jeito nenhum filho. É essencial você saber que a partir de agora Hircine tentará trazer você para seu lado a todo custo, ele possui três formas: em uma ele tem o corpo de humano e cabeça de veado, sua forma mais resistente e poderosa, além de ser a esculpida em suas estátuas. A forma veloz, que é um lobo com cabeça de veado, ele é muito rápido. Por fim, possui a forma de um Grande Veado Branco, a lenda que poucos conhecem.  Sugiro que leia mais sobre a figura no livro 16 Acordes de Loucura.
            - Tudo bem meu pai, entendo, tomarei cuidado com Fenrir, mas o que quer que eu faça agora? Largue a caça? – perguntei, percebendo que meu pai ficou irritado.
            - Você irá para Whiterun, Jorvaskrr, lá encontrará Kodlak Whitemane, um velho conhecido meu, enviei uma carta para ele quando despachei a sua, portanto, ele está ciente da situação. Você será treinado junto com os companions e aperfeiçoará seu poder, além de ficar longe de Hircine, você está começando a demonstrar seus poderes ocultos, já consegue farejar, não é? – perguntou meu pai como se já soubesse a resposta.
            - Sim, eu consigo distinguir cheiros agora com mais facilidade, parece que meu nariz está sensível, pensei que fosse alguma doença...
            - Agora vá e se junte a eles o mais rápido possível, quanto ao dinheiro que tirava com a caça, pode ficar tranquilo pois estou recebendo bem aqui e poderei ajudar sua irmã. Em breve darão um jeito no lobo, mesmo que temporário, portanto, trate de ir logo, mas primeiro passe em casa. Mais uma coisa filho, queria que você soubesse... És o meu presente para esta província, quando treinado será uma arma contra as trevas!.
            - Ainda não entendo, mas confio no senhor e sei que muito em breve entenderei. Ainda há algo a ser feito, eu trouxe as pedras que consegui na última aventura, o senhor poderia vendê-las para mim? – indaguei.
            - Sim, enviarei o dinheiro para sua irmã assim que conseguir vendê-las. Foi muito bom te ver, filho. – disse meu pai com os olhos úmidos enquanto abria os braços para me abraçar. – Sentirei sua falta, venha me visitar quando puder.
            Eu o abracei e assenti com a cabeça, não falei mais nada. Entreguei as joias e desci até as docas onde estava Fenrir me esperando. Ele não falava mais, será que era obra de meu pai? Mesmo assim, por um dia e meio segui em silêncio de volta à fazenda, onde Sirja me esperava ansiosamente.
            - Roggvar! Como foi? Papai estava bem? – perguntou ela.
            - Sim, mas tenho que ir embora, ele me pediu para que entrasse em treinamento junto aos companions, não sei quanto tempo ficarei por lá, mas papai disse que suprirá minha falta mandando incentivos para você.
            - Mas Roggvar, existe um motivo especial? Eu ficarei sozinha na fazenda! Como farei o trabalho braçal sozinha e administrarei ao mesmo tempo? Fora que sentirei muito sua falta!  – disse minha irmã com tristeza.
            - Fique tranquila, irmã. Dará tudo certo, papai sempre tem propósitos para tudo! – disse, confortando-a.

            Então, alguns dias se passaram e eu me preparava para partir, minha irmã estava no balcão revendo as contas, quando de repente um homem entrou pela porta da frente. Era um homem alto e corpulento, de pele negra e com um machado ameaçado à suas costas. Fiquei apreensivo, mas logo essa necessidade se esvaiu, pois vi que era Ahtar, o homem que ajudei em Solitude.
            - Roggvar – disse o homem sorrindo. – Estou aqui para ficar com sua irmã enquanto você treinar com os Companions. Está aqui uma carta de recomendação, eu trabalho para seu pai agora.
            Peguei um pedaço de papel da mão do homem, era a letra e o selo de meu pai, ele realmente tinha mandado o redguard até a fazenda.
            - Ótimo, assim fico mais tranquilo. – disse.

            A partir daí eu terminei de arrumar minhas coisas e passei dois dias ensinando a Ahtar como funcionava o cotidiano da fazenda. Por fim, parti até Whiterun, se despedindo da minha irmã e prometendo visitá-la. Eu e Fenrir estávamos agora na estrada, destino certo.



FIM 





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